Sou ciumenta. Terrivelmente. Odeio admitir, mas sou. Tenho ciúme até dos meus amigos. E fiquei me roendo na tarde em que um deles começou a mostrar um texto em seu notebook para outras pessoas e se recusou a permitir que eu compartilhasse da leitura. Talvez ele tenha pensado que eu estava fazendo piada, manha. A verdade é que fiquei genuinamente magoada. Aliás, genuinamente enciumada.
E quando ele, meio sem graça, me liberou para ler eu tive que rir. Não havia motivo de ciumeira, ele só não me deixou participar da leitura e dos comentários antes porque ficou com vergonha. Era um texto erótico.
Não quero fazer piada do texto do meu amigo, até porque não era um texto ruim. Mas estou tão acostumada a ser tratada como “mais um menino da turma” e ouvir todo tipo de história que achei bonitinho esse medo. Bonitinho apesar de infundado. Eu adoro textos do tipo. Mas entendo meu amigo. Às vezes sou tão reservada com certos aspectos da minha vida pessoal, que alguns ficam achando que sou um ser assexuado. Lembram tanto da menina que esquecem que ela é também mulher.
É claro que, chata como sou, não serve qualquer texto. Tem que ter qualidade. Histórias como as que meus amigos contam, mergulhados em seus dilemas sobre o tamanho do pau de cada um, ou lidando com mulheres que foram para a cama com eles como se elas fossem putas não servem. Gosto de erotismo, mas abomino vulgaridade. Gente vulgar não me dá tesão, me causa apenas ojeriza. Se entre quatro paredes vale tudo? Vale. Desde que permaneça entre essas quatro paredes e seja um desejo comum aos dois – ou mais – participantes.
A história do meu amigo havia sido escrita para uma colega de faculdade, que ele chamou de V. E enviada para ela. Achei bacana essa coragem. Também já desejei ardentemente um colega de turma – mesmo mergulhada em uma paixão idiota por outro cara – e lamento não ter tido “peito” para escrever um conto assim e enviar para ele. Ambos éramos solteiros na época, e o resultado poderia ter sido bem divertido.
O problema, no meu caso, foi medo da reação. Ele podia ter adorado, compreendido que desejo é uma coisa normal e topado saciar essa minha vontade que me atormentava um bocado – aliás, odeio passar vontade. Mas também poderia ter dado uma de menino machista, me taxado de puta e feito pilhéria para os amigos. A gente não tem como prever as reações alheias. Nem as nossas, para dizer a verdade. E na dúvida, optei por calar.
A sorte é que a gente sempre pode desejar mais de uma pessoa. Aumenta as chances de se dar bem de alguma forma. E o meu último “affair” até renderia um conto interessante... Pena que eu guardei essa história entre aquelas quatro paredes que nos serviram de testemunhas... É para poucos. Sou uma mulher para poucos. Quantidade não me interessa, só a qualidade me seduz.
Como diria minha caríssima amiga Bárbara Lemos: