quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Um conto para V

Sou ciumenta. Terrivelmente. Odeio admitir, mas sou. Tenho ciúme até dos meus amigos. E fiquei me roendo na tarde em que um deles começou a mostrar um texto em seu notebook para outras pessoas e se recusou a permitir que eu compartilhasse da leitura. Talvez ele tenha pensado que eu estava fazendo piada, manha. A verdade é que fiquei genuinamente magoada. Aliás, genuinamente enciumada.

E quando ele, meio sem graça, me liberou para ler eu tive que rir. Não havia motivo de ciumeira, ele só não me deixou participar da leitura e dos comentários antes porque ficou com vergonha. Era um texto erótico.

Não quero fazer piada do texto do meu amigo, até porque não era um texto ruim. Mas estou tão acostumada a ser tratada como “mais um menino da turma” e ouvir todo tipo de história que achei bonitinho esse medo. Bonitinho apesar de infundado. Eu adoro textos do tipo. Mas entendo meu amigo. Às vezes sou tão reservada com certos aspectos da minha vida pessoal, que alguns ficam achando que sou um ser assexuado. Lembram tanto da menina que esquecem que ela é também mulher.

É claro que, chata como sou, não serve qualquer texto. Tem que ter qualidade. Histórias como as que meus amigos contam, mergulhados em seus dilemas sobre o tamanho do pau de cada um, ou lidando com mulheres que foram para a cama com eles como se elas fossem putas não servem. Gosto de erotismo, mas abomino vulgaridade. Gente vulgar não me dá tesão, me causa apenas ojeriza. Se entre quatro paredes vale tudo? Vale. Desde que permaneça entre essas quatro paredes e seja um desejo comum aos dois – ou mais – participantes.

A história do meu amigo havia sido escrita para uma colega de faculdade, que ele chamou de V. E enviada para ela. Achei bacana essa coragem. Também já desejei ardentemente um colega de turma – mesmo mergulhada em uma paixão idiota por outro cara – e lamento não ter tido “peito” para escrever um conto assim e enviar para ele. Ambos éramos solteiros na época, e o resultado poderia ter sido bem divertido.

O problema, no meu caso, foi medo da reação. Ele podia ter adorado, compreendido que desejo é uma coisa normal e topado saciar essa minha vontade que me atormentava um bocado – aliás, odeio passar vontade. Mas também poderia ter dado uma de menino machista, me taxado de puta e feito pilhéria para os amigos. A gente não tem como prever as reações alheias. Nem as nossas, para dizer a verdade. E na dúvida, optei por calar.

A sorte é que a gente sempre pode desejar mais de uma pessoa. Aumenta as chances de se dar bem de alguma forma. E o meu último “affair” até renderia um conto interessante... Pena que eu guardei essa história entre aquelas quatro paredes que nos serviram de testemunhas... É para poucos. Sou uma mulher para poucos. Quantidade não me interessa, só a qualidade me seduz.

Como diria minha caríssima amiga Bárbara Lemos:

“Sou uma qualquer, encontrada em uma casa qualquer de um lugar qualquer. Estou com o prazo de validade vencido, então agüente as conseqüências do pós-ato. Sou multiuso, o que não significa que você poderá me usar com todas as minhas funções. Não fui feita para o agrado de todos. Possuo um público-alvo bastante seleto, então provavelmente não é para o seu bico. E, ah, o preço é alto. Muito alto meu caro.”

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Feliz Natal

Desconforto. Foi o que senti quando veio o aviso de que antes de encerrar o expediente no dia 24 de dezembro, alguém viria fazer uma oração por causa do Natal com todos os funcionários. Entendam, não tenho nada contra orações. Nada contra nenhum tipo de fé. Os antigos Druidas já afirmavam, em sua sabedoria, que todos os deuses são um deus. E fracos como somos, precisamos acreditar em alguma coisa maior do que nós para ter um ponto de apoio.

O que me deixou desconfortável foi o tom do aviso. Porque aquele tom me dizia que não se tratava de um convite, mas de uma ordem. Esperei, em vão, pelo complemento que deveria vir a seguir, informando que os não-cristãos, que não comungassem da mesma fé, eram livres para não participar. Mas nada foi dito nesse sentido. Obviamente, foi uma ordem velada, dita de maneira natural, como se não houvesse nenhuma crença alternativa ao cristianismo. E isso me incomodou. Quando as pessoas começaram a me olhar e dizer “ora, deixe de besteiras, não custa nada você ficar”, eu me senti tão desconfortável que nem conseguia disfarçar.

Esse sentimento desagradável se manifestou porque eu sabia que, se um pai-de-santo fizesse soar os tambores para pedir uma benção aos orixás, o cristão certamente não aceitaria participar. Se um pagão convidasse aquele pastor para participar do Sabat de Yule e receber as bênçãos da Deusa, ele provavelmente recusaria horrorizado o convite sem pensar duas vezes. Mas para mim e para os outros não-cristãos que estavam no trabalho naquele 24 de dezembro, ter uma fé diferente não passava de uma besteira. E nos restavam apenas duas opções: podíamos ficar e orar, ou sairmos e sermos julgados e condenados como intolerantes, como em uma volta à inquisição – só que o fogo não estaria nas fogueiras, mas nos olhares incompreensivos desta vez.

Me incomoda essa certeza propagada pelo cristianismo de que somente a fé deles pode salvar. Não que eu acredite que preciso de salvação. É que as pessoas parecem esquecer que respeito é, obrigatoriamente, uma via de mão dupla. Para ter sua fé respeitada, você precisa saber respeitar a minha. E fé meus caros, - perdoem a deselegância – é igual a cú, cada um tem a sua. Não adianta achar que a sua crença é mais verdadeira, porque ela provavelmente é apenas mais uma crença e só tem valor para quem acredita nela.

Outra coisa importante que os antigos Druidas costumavam dizer é que os rituais e símbolos que utilizamos para estarmos mais próximos das divindades são apenas formas de transformar a fé em algo mais palpável, mais próximo, porque a maioria das pessoas não evoluiu a ponto de poder se entregar a uma fé cega, sem referenciais. E para mim, cada um desses símbolos é apenas uma criação humana, uma questão cultural muitas vezes absorvida de ritos pertencentes a outras crenças que foram subjugadas. Porque religião também é poder.

O Natal é um exemplo claro de absorção de elementos culturais oriundos de povos dominados. Os principais símbolos natalinos têm origem pagã e a própria crença no nascimento do Cristo se adequa ao período em que a maioria das civilizações agrícolas pré-cristãs celebravam o nascimento do deus-solar, durante o solstício de inverno, a noite que representava o ápice da estação fria no hemisfério norte, e a partir da qual os dias passarão a alongar-se e a natureza iniciará seu processo de revitalização. Na Wicca, essa festa é comemorada com o Sabat de Yule, a festa que comemora o nascimento da criança da promessa.

Outros elementos simbólicos do Natal Cristão também possuem uma ligação com as celebrações de Yule e refletem os elementos naturais que permanecem vivos ao longo do inverno, ou que mantém os homens durante esse período. Há, por exemplo, o pinheiro, que se conserva verde durante o inverno, e as frutas secas, nozes e outros alimentos, bastante calóricos e de fácil conservação. Pode parecer loucura, mas é possível que uma das mais significativas festas cristãs, tenha surgido a partir de ritos dos povos que foram perseguidos, julgados e, em alguns casos, condenados e queimados nas fogueiras santas.

Eu contei toda essa história porque estou cansada de ser olhada como um monstro quando digo que não gosto de natal. Acho uma festa hipócrita. Uma desculpa pra fazer farra e trocar presentes – aliás, adoro dar e receber presentes, essa é a melhor parte! E não me venham com esse papinho furado de espírito natalino. Solidariedade, respeito e amor ao próximo são valores que ou você tem durante o ano inteiro ou não tem. E a esperança renasce em mim a cada criança que vem ao mundo. Todos os dias.

Sinceramente, se aquele convite do início do post tivesse sido acompanhado pela certeza de que o cristianismo não é o único, mas sim o caminho escolhido livremente por alguns, e pelo aviso de que só deveria permanecer ali quem realmente desejasse, eu talvez tivesse permanecido e compartilhado daquele momento, mesmo acreditando nas minhas próprias verdades. Ao invés disso eu fiquei ali sem estar, com a cabeça longe, impaciente e inquieta. Sei que foi uma ação bem-intencionada, e acredito na força da fé, seja qual for a sua forma de manifestação. Mas não aprendi a respeitar quem não me respeita.

domingo, 27 de dezembro de 2009

Curta e grossa

Para vocês Meninas-Mulheres:

Avassaladora

Composição: Gonzaguinha

Avassaladora
senta no seu colo
lambe o pescoço
morde a orelha
enfia a língüa
por entre seus dentes
tomando toda a sua boca
ela é louca
muito louca e,
ele adora sua mão
apertando o que deseja
com calor e com carinho
ensinando o caminho
da loucura
e acabando com
seu medo de não poder
e o macho se solta
se larga, se acaba na
mão da rainha
com todo prazer.
e o macho desmonta
no grito de gozo
na mão da rainha
e desmaia
de tanto prazer.






----> Seja marcante e absolutamente inesquecível por uma noite (ou dia, fica a gosto do fregues(a)), deixe o seu ID e seu SuperEgo brigando e dê a injeção de Prozac que seu Ego precisa para viver feliz, cheio de mistérios e algumas boas histórias pra contar e outras pra lembrar! #FikDik para 2010

sábado, 19 de dezembro de 2009

Pílula do dia seguinte...

... mitos e verdades.

Tomei a liberdade de transcrever (descaradamente) esta matéria porque realmente acredito que seja algo a ser dividido. A pílula do dia seguinte ainda é carregada de preconceitos e causa polêmica por onde passa, quando na realidade, deveria-se desprender essa energia ponderando sobre o aborto.
Ah! Um pouco de juízo e camisinha de sobra nunca são demais.
Vouala!

1) É recomendável que se tome a pílula até 72 horas depois da relação sexual. Depois disso, o feto nasce com deformidades.
Mito. "Em geral, não há riscos para o feto, porque nesse momento não há um embrião formado. Então, não existe contato entre o bebê e o sangue da mãe", explica o ginecologista Claudio Bonduki. Mas isso também não significa que você está segura. Depois de 72 horas, a pílula não causa problemas ao feto, mas também não evita uma gravidez indesejada. É recomendável, então, que ela seja tomada logo após a relação sexual. Quanto mais cedo o primeiro comprimido for ingerido, maior a eficácia do remédio.

***

2) A pílula é 100% segura.
Mito. Vômitos, dores de cabeça, sangramentos, náuseas e irregularidades no ciclo menstrual são alguns dos efeitos colaterais da pílula do dia seguinte. A intensidade e a frequência dos sintomas variam de mulher para mulher. Mas não se engane, o problema maior não está na eficácia contraceptiva, mas sim no fato de ela não prevenir as doenças sexualmente transmissíveis. Portanto, ela jamais deve ser usada como um paliativo para a falta de camisinha.

***

3) Tomar pílula do dia seguinte no meio da cartela anticoncepcional dobra os efeitos colaterais. Verdade. Não há estudos que comprovem os reais efeitos da pílula do dia seguinte em mulheres que já fazem uso de anticoncepcional - e não há consenso entre especialistas. Mas casos clínicos comprovam que as chances de surgirem efeitos colaterais, como dores de cabeça e náusea, aumentam muito. "Nessa situação a mulher pode ter mais sintomas e em intensidades maiores", comenta Bonduki.

***

4) Ela é abortiva.
Mito. "Se a pílula fosse abortiva, a eficácia dela não cairia com o passar dos dias", argumenta o ginecologista Marco Aurélio Pinho de Oliveira. Segundo o chefe do Ambulatório de Endometriose do Hospital Universitário Pedro Ernesto, no Rio de Janeiro, o embrião só se aloja no útero da mulher no terceiro dia após a fertilização. Após as 72 horas em questão, a pílula já quase não tem efeito no organismo da mulher.

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5) Tomar a pílula com muita freqüência corta o efeito dela.
Verdade. De acordo com o ginecologista Oliveira, quando o uso da pílula do dia seguinte é muito recorrente as "falhas" passam a ser mais próximas também. "Na primeira vez que usa, a mulher tem 5% de chances de engravidar. Se ela toma a pílula de novo em sequência, ela aumenta mais 5% de chances", explica. Mas não se assuste, ela não tem efeito cumulativo. Se por um acidente você teve de tomar a pílula e, alguns meses depois, precisou tomá-la de novo, a eficácia dela permanece a mesma da primeira vez.

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6) A descarga hormonal pode danificar útero e ovários.
Mito. Composta pelo hormônio estrogênio, a pílula do dia seguinte não traz efeitos orgânicos à mulher. "O único perigo é em mulheres com prediposição à trombose, porque ela pode ter uma trombose vascular", orienta Claudio Bonduki.

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7) Quanto mais tarde tomar a pílula, mais chances tenho de engravidar.
Verdade. "No primeiro dia a mulher tem 5% de chances de engravidar. No terceiro, o risco sobe para 50%", alerta Marco Aurelio Pinho de Oliveira. Após 72 horas, a eficácia do contraceptivo é quase nulo. "O nome é impróprio, deveria ser chamar pílula das horas seguintes. A mulher tem de tomar o primeiro comprimido o quanto antes", finaliza.

Fonte: Site Terra, por Aretha Yarak

(Por mim em www.dsrta.blogspot.com )

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Sabedoria



Eis aqui o mais sábio conselho já dado a uma mulher:
.
"Ele transa bem? Leva você para comer bons queijos e vinhos? É seu amigo? Então fica com ele. É o máximo que você vai conseguir de um homem."

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

A noite de Rita

Foto: Marcelo Ferreira.

Recebi um convite para ir a uma festa em um terreiro de macumba. Um convite bonito, bem elaborado, para uma festa de primavera. Como eu não tenho preconceitos com relação a essa crença, aceitei ir de bom grado.

Não era um dia bom. Estava cansada, sem dormir, de ressaca, e sentindo muita dor no dedão do pé que eu havia machucado durante a bebedeira da noite anterior (aliás, até agora não descobri ao certo como). Mas já havia confirmado a presença, então, tomei um analgésico, me arrumei e fui. Gosto de pensar que fui linda, porque aprendi que se arrumar com cuidado para um evento serve também para mostrar ao anfitrião que você se importa com a festa e respeita o trabalho necessário para prepará-la. Mas aquele sapato horroroso – o único que eu agüentava calçar – insistia em berrar o contrário.

Cheguei com uma hora de atraso, e mesmo assim esperei pelo menos mais uma hora e meia pelo início da cerimônia. Sei que estava chata e calada, perdida no meu mundinho interior. Alguns talvez pensassem que era porque eu não queria estar ali. Mas não era. Aquele era apenas um dos momentos em que meu fardo parece pesado demais e eu acabo mergulhando dentro de mim.

Quando a mãe-de-santo finalmente entrou no barracão para dar início a reunião eu relaxei um pouco. Gosto dela. É uma presença forte e por algum motivo me transmite confiança. Eu sou muito sensível a energia do ambiente e das pessoas e raramente me engano com relação a isso. Engraçado que a maioria das mulheres da minha família também é assim, embora muitas neguem para não bater de frente com cristianismo que resolveram adotar. Bruxaria hereditária, diria Naema. E poderosa. Mas isso é assunto para outro post.

O fato é que a mãe-de-santo chegou e os tambores soaram. E parecia que o batuque era dentro do meu peito. Os mestres foram descendo – perdão, não sei bem se o termo é esse – e assumindo o corpo de seus filhos. Era o momento das entidades masculinas. Eu fiquei assistindo encantada, sem conseguir tirar os olhos daquelas pessoas, até que a combinação de cansaço, fumaça e ambiente abafado começou a me incomodar, e me vi forçada a sair do barracão para beber água e me sentar um pouco.

Fui me sentindo pior. Tomei outro analgésico e após a despedida dos mestres, fui comer um pouco com alguns amigos – entre eles a espevitada Iris, que não agüentava de ansiedade – enquanto esperávamos a segunda parte da cerimônia. Ainda descansei um pouco no carro de Marcelo, impaciente com as pessoas me perguntando por que eu estava calada. Eram tantos e tão dolorosos motivos que nem valia a pena dizer, e o cansaço pareceu a desculpa mais cômoda.

Voltamos ao barracão para receber as mestras. E quando a mãe-de-santo incorporou Ritinha, eu entendi porque ela ganhou uma festa só para si. Divertida, desbocada, escrota, egoísta, cheia de si. Mas também, de certa forma, carinhosa, infantil e protetora. São muitos adjetivos para ela, bons e maus. E foi isso o que mais me encantou. A dualidade. Porque ninguém é só bom ou só ruim, todos somos uma mistura dessas duas forças e entidades demasiadamente perfeitas e boas me incomodam.

Ritinha recebeu muitos presentes, com embrulhos que ela rasgava com a alegria de uma criança. Dançou, bebeu, atiçou os homens. Contou que foi prostituta, que morreu assassinada, que foi desejada pelos homens e hostilizada pelas mulheres. Observei em um silêncio encantado aquela figura. Não consegui hostilizá-la. Admirei, e até invejei sua sinceridade inconseqüente. Em certos momentos me senti identificada. Em outros vi nela quase um oposto. E esse vaivém de sensações me manteve presa, absorta, esquecida de tudo o que me incomodava antes.

Por duas vezes, quando passou por mim, ela fez piada de uma história que a mãe-de-santo não tinha como saber. Aquilo me divertiu ao invés de me irritar como aconteceria normalmente. Ela disse que poderia roubar de mim meu “macho”. Eu respondi que ninguém pode me roubar o que nunca foi meu. Ela me olhou séria e não disse mais nada. E eu gostei daquele silêncio. Senti que poderia ter pedido a ela que me desse o homem que quisesse. Mas não quero ter ao meu lado uma pessoa que precisa de um feitiço para me desejar, me querer. Não me parece um bom negócio.

Fui embora cedo, mas a noite de Rita ficou em minha mente. E adormeci com meu peito batendo no ritmo dos tambores.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Contando a história dos outros, êpa...pode ser a sua!

Como toda boa historiadora, adoro escrever sobre os outros ou sobre o que os outros escrevem, nessa inauguração, podemos assim chamar leiam abaixo (não vou descrever hahahahaha).



Viviane chegou tarde no flat do namorado, ou namorido, ou eterno noivo, sei lá, esses nomes que classificam relações que se arrastam, semissérias e semi “vai levando”, onde os casais moram em casa separadas e vivem pra lá e para cá com sacolas entulhadas de mudas de roupas ligeiras e pertences utilitários, dependendo do que se vai fazer à noite.

E naquela noite, mochila a tiracolo, cabelos soltos ainda cheirando a xampu de maçã, vestidão de verão, sandália rasteira em seus pezinhos bem feitos e animados, Vivi tinha saído às pressas de uma happy hour com o pessoal da academia, onde à terceira caipivodka de frutas vermelhas percebeu que era hora de ir embora. Pobre caipivodka. Levou uma culpa que não era sua.

Na verdade, o encontro tinha sido perturbador e Vivi precisava sair antes que uma surpresa acontecesse, mesmo que inconscientemente muito bem-vinda. Estava esbaforida e encalorada. Ao enfiar a chave na porta, percebeu um silêncio no apartamento. Nada de música alta ou televisão ligada, indícios de que Lourenço já estaria dormindo ou teria saído não se sabe para onde.

Tirou as sandálias, entrou pé ante pé. Fez uma varredura pela sala e supôs, pelas latas de cerveja na beira do sofá, que o namorado, ou namorido ou eterno noivo estaria derrubado. E assim o encontrou de bruços na cama, short largo e sem camisa, exibindo a meia luz seu dorso seminu, onde suas escápulas abertas e alinhadas suscitavam uma massagem relaxante e consequente.

Vivi levantou o vestidão e tirou a calcinha. Abriu as pernas, montou na lombar de Lourenço, descendo seu tórax como uma bailarina agradecida, beijando a nunca do namorado, roçando contra aqueles quadris morenos a pelúcia suave do seu sexo úmido de bordas e detalhes intumescidos, pincelando seus seios de bicos rijos e delicados sobre as costas másculas ali dispostas, dedilhando a mão direita em direção ao interior do short, bem na parte encostada nos lençóis. Encontrou o que queria.

Os movimentos de mão e pélvis se aceleraram progressivamente, Lourenço soltou um gemido ressonante. Embora dormisse e continuasse de bruços, sua anatomia reagiu ao estímulo como por instinto. E Vivi prosseguiu o passeio, ocupando sua mão com um calor cada vez mais pulsante e receptivo, até que - surpresa fora de hora - sentiu um transbordar quente, espesso e melado entre os dedos, seguindo de um suspiro derradeiro.

- Pô, Lourenço. Por que você não me esperou?

- Esperou o quê, Vivi? Estava com sono. Aliás, estou com sono.

Viviane virou-se na cama, mal enxugou a mão no lençol e mirou o teto. O lustre estava apagado, mas as luzes dos carros esparsos na rua entravam pelas frestas da persiana produzindo um desenho animado de sombras que não a deixava dormir. Pobres luzes, pobres frestas, pobres sombras, pobre desenho animado. Levaram uma culpa injusta. Na verdade, Vivi estava perturbada com a mistura de sensações ocorridas no happy hour, muito além das frutas vermelhas espremidas na vodka. E de olho pregado no teto, tomou coragem, cutucou Lourenço.

- Lourenço, acorda. Precisamos conversar.

- Hummmmpf.

- Lourenço, é sério, é importante.

- Hummmmpf.

- Lourenço, me ouve: está acontecendo uma coisa comigo. Começou como brincadeira, a coisa foi tomando jeito e hoje eu percebi que não é brincadeira não.

- Hummmmpf.

- Cheguei cheia de tesão, tentando espairecer, mas confundi tudo, acho que tentei usar você, mas não consigo pensar em outra coisa…

Lourenço sentou-se na cama. Passou a mão nos cabelos desgrenhados, esfregou olhos e testa como uma esponja numa superfície encrostada.

- Vivi, que falta de sensibilidade! O Campeonato Brasileiro do jeito que está: Flamengo, São Paulo, Atlético e Palmeiras disputando o título ponto a ponto, Fluminense fazendo milagres para não cair, no calcanhar do Botafogo que parece que vai mas não vai… e você numa semana dessas querendo discutir a relação?

Viviane respirou fundo. Vestiu a calcinha, o vestidão de verão, calçou a sandália rasteira. Foi ao banheiro, lavou mãos ainda com resquícios grudentos, passou sabonete no rosto e um batom. Paralisou um instante diante do espelho, ajeitou o cabelo e gostou do que viu. Pegou a mochila, deu a última espiada no apartamento. Despediu-se da sala, do quarto em penumbras, do dorso de Lourenço, que voltou a dormir de bruços, e das escápulas sem mais sentido. Simbolicamente deixou a chave na mesinha ao lado do sofá. E saiu pela madrugada cor de rosa, pensando, sentindo, com vontade de chorar, com vontade de ligar para as amigas. Não sabia direito se estava triste com a certeza de um fim. Ou feliz pelos caminhos que se abriam.

PS¹: Peguei na net, descobri que o outor safadinho também fez isso, ah...mas eu queria abrir as portas da esperança com ESTE texto. Ah não cito a fonte, não tô afim.

PS²: Se ele não tá afim, o problema é DELE, mulheres são deusas =)

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Divagações sobre o P.A.

Uma das maiores lições que aprendi nessas minhas 25 primaveras – e que começou com um conselho a nossa amiga historiadora logo que nos conhecemos – é que existe um tipo de homem que deveria ser considerado artigo de primeira necessidade na cesta básica da mulher-solteira-moderna-e-independente. Ele é conhecido por vários nomes, mas, para mim, o que melhor define suas utilidades é o P.A. ou Pinto Amigo. Pode parecer maldoso da minha parte nomear alguém dessa maneira, e na verdade é. O que nos leva ao primeiro pré-requisito do P.A.: ele não pode ser lá muito bonzinho.

O homem sobre o qual estou divagando aqui é aquele que vem em nosso socorro nas horas tristes e vazias de solidão, e põe em dia os nossos hormônios. Ele vai pro bar com a gente e nos empresta o ombro para chorarmos por outro. Depois deixa a gente curar a nossa carência com ele, e não se sente usado quando ligamos para dizer que não vamos tornar a vê-lo (pelo menos não com as mesmas intenções de antes) porque achamos um novo candidato a homem das nossas vidas, e temos o lamentável hábito de sermos fiéis.


Outra característica fundamental de um P.A. é a discrição. Homem inseguro de si, que precisa contar pro mundo o que faz – e o que não faz – com as mulheres, é melhor descartar. O bom P.A. precisa fazer o gênero mineirinho. Alguns outros cuidados também são essenciais na escolha desse item tão útil. Homens românticos, ex-namorados, apaixonados e afins devem ser evitados. P.A. que é P.A. não te ama e não vai te amar. Ele sabe que está ali apenas suprindo uma lacuna temporária e aproveita para se divertir também.

Se o P.A. começar a ligar no dia seguinte, ligue as antenas. Ao primeiro sinal de paixão decida se quer investir e transformá-lo em algo mais. Se a resposta for não, dispense-o. E também não invente de se apaixonar por ele. Não se apegue, não fantasie, não use-o como o novo amor que fará você esquecer o antigo. A brincadeira só é divertida enquanto os dois estão jogando com as mesmas regras. E a regra número um é não se envolver emocionalmente. O P.A. é um P.A. porque nem você e nem ele querem compromisso. Se não fosse assim ele seria um peguete, um pretê, uma paixão mal-resolvida ou qualquer outra coisa que tenha chance – embora remota – de resultar em almoço de família no domingo, com direito a sogra e tudo mais.


O grande lance dessa aquisição é não esquecer de deixar tudo às claras. Lembre-se que pessoas têm sentimentos. Não é justo magoar o outro e, principalmente, não é justo magoar a si mesma. Porque o seu P.A. certamente não será muito bonzinho, mas isso não significa que não será um cara bacana. Na verdade, sempre é um cara muito bacana. Que te respeita e merece ser respeitado. Que entende que a gente pode se divertir sem culpa e sem compromisso. Aliás, aí está uma coisa fundamental: se ele não é gente boa e não te respeita ele não serve nem pra isso nem pra qualquer outra coisa.


A gente às vezes recorre a um P.A. porque não é fácil lidar com a carência e nem todo mundo se sente à vontade para resolver seus problemas nos braços de um estranho. De vez em quando é bom ter alguém que te ouve, te dá carinho, te dá aquele “trato”, – cama, mesa, banho e o que mais vier – tudo isso sem o peso da expectativa do dia seguinte. É bom especialmente quando a gente tem um coração partido e algumas dores que parecem nunca esmorecer.

Apresentação

Por enquanto somos três. Uma historiadora, uma administradora e uma jornalista. A historiadora é arrogante. A jornalista é grossa. A administradora parece ser a mais equilibrada. Fumamos narguilé, amamos dançar e falamos pelos cotovelos. Temos verdadeira paixão pela vida e pelo mundo, somos sinceras, intensas, teimosas e cabeças-duras. Mas temos charme. E se você merecer, até jogamos um pouquinho na sua direção.

Quem melhor nos definiu, até hoje, foi Clarice Lispector:

“Somos como você nos vê. Podemos ser leves como brisas ou fortes como tempestades. Depende de quando e como você nos vê passar”.

Aqui vamos falar sobre tudo. Sobre todos. Coisas úteis e coisas fúteis. Textos inspirados e comentários mesquinhos. Amores e desamores. Alegrias. Tristezas. Dores. Alívios. Vidas pintadas em uma tela com cores de Frida e, acima de tudo, a intensidade de Frida. E nossos leitores serão livres para decidir se encaram ou correm. Esperamos que encarem, porque acreditamos que valerá o esforço.

Como diria Marilyn Monroe: “se você não pode lidar com o nosso pior, certamente não merece o nosso melhor”.


Obs: Aos pouquinhos vamos postar perfis pessoais para vocês nos conhecerem melhor.