quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Até o fim

Ele tinha os olhos azuis mais lindos que ela já vira. E ela sabia que a atenção deles estava voltada para si. Inteiramente.

E enquanto sentiam o toque suave da brisa da praia de Boa Viagem, e se banhavam com a luz que aquela lua escandalosamente cheia derramava sobre os dois, ele perguntou a ela se tinha algum projeto. Algo que pudesse prometer que levaria até o fim. Ela respondeu que não. Ele riu. Ele conhecia o hábito dela de deixar planos desfeitos pelo caminho.

Saíram. Ele ia embora na manhã seguinte. Mas aquela noite era deles, só deles. E nos braços dele ela esqueceu todas as dores. Esqueceu o outro por quem tantas vezes chorou. Sentiu-se desejada. E sentiu desejo também.

E desta vez ela não deixou esse desejo ficar para trás. Colocou sua timidez de lado para enfrentar a dele. Provocou, brincou. Deixou ele beijar seu corpo com paixão e se aconchegar entre suas pernas. E ele o fez com intensidade, com força, do jeito que ela adorava que os homens fizessem. Pensou em como era raro alguém que a satisfizesse daquela maneira. Então não pensou mais, apenas sentiu.

E antes de partir ele disse a ela que tentasse. Que fizesse planos. Que levasse adiante projetos. Que deixasse algo além de sua presença - para ele marcante - de presente pro mundo. Algo finalizado.

Depois, já em casa, sozinha, foi mexer em antigos escritos de sua adolescência e decidiu que tinha sim, um projeto para ser levado até o fim. Transformaria uma dessas histórias escritas pela menina que foi há dez anos em um livro. Ia dar trabalho, é verdade. Obviamente quis mudar um monte de coisas, achou tudo infantil demais. Mas era um começo. Mesmo que mais tarde ninguém lesse, era algo para levar até o final.

A aventura

Vinha pensando no meu dilema e cheguei a conclusão de que um certo nicho de mercado, ainda longe da maioria dos mortais, está prestes a prosperar estratosfericamente graças a nós mulheres.
Ocorre que para a geração da minha mãe, por exemplo, mulheres trabalhando fora não era corriqueiro, para a minha, é uma boa e para a próxima será necessário. Viver está cada vez mais caro e a mulher cada vez mais antenada e independente. Ser profissional, qualificada e boa no que faz não é um luxo é quase um dever íntimo, uma missão assumida por nós com nós mesmas.
Pensei nisso enquanto percebia meu exemplar de “Pais Brilhantes Professores Fascinantes” (Augusto Cury) e lembrava do café da manhã passado quando uma colega de trabalho me perguntou quando eu pretendia ser mãe e eu respondi num meio desdém “qualquer dia desses, dando tempo, eu providencio” ela percebeu a piada e rimos.
Tempo. Conto vinte e oito anos, sou noiva e casamento provavelmente só em dois mil e onze (nada contra produções independentes, só não é a minha praia...), daí já serão vinte e nove primaveras, mas ainda tenho minhas especializações, meu carro... trinta e cinco? Quantos filhos? Um? Porque não dois guris? Então entre os trinta e cinco e os quarenta é o tempo que tenho para providenciar dois pimpolhos? Mas não ter mais “vinte aninhos” faz alguma diferença na hora de produzir gente: O potencial produtivo da mulher (reserva ovariana) diminui conforme corre o tempo e a medida em que as chances de ter um filho não tão perfeito quanto sonhamos cresce a galope.
Claro que tenho amigas que foram mães cedo, até porque minha geração estava no olho do furação quando o tabu de fumaça da liberdade sexual feminina estava deixando realmente de ser uma utopia, mas a verdade é que a maioria das profissionais que conheço ainda não são mães mas pretende sê-lo um dia. São mulheres de trinta à quarenta anos bem vividos e num pique de labuta quase compulsivo.
O fato é que quando o relógio biológico lembra que o bonde está passando e não volta mais até EU paro e penso no assunto então, no embalo dessa viagem louca, enquanto surfava na maionese me ocorreu que num futuro próximo essa preocupação será obsoleta e jocosa porque mulheres ou casais jovens e desejosos de bebês, mas que estão muito ocupados investindo na carreira e se preparando financeiramente para ser pais, irão a clínicas sérias de fertilização assistida, mas não porque terão problemas e sim porque não querem tê-los: Eles irão investir seus gametas jovens neste banco de quase gente, para um dia, voltar lá e fabricar seus bebês. Quer dizer, isso se os maias e Nostradamus não estiverem corretos e todos os nossos dilemas não acabarem em dois mil e doze.
Enquanto isso, eu continuo na mesma. Filhos nunca foi meu plano “A” mas, seria uma bela aventura, uma aventura para vida toda. Quem sabe? Dando tempo...

domingo, 24 de janeiro de 2010

Conversa entre amigas



“Ele me usou”, ela disse chorando. E já bateu em mim aquela impaciência habitual. O diálogo seguiu.

- Mas ele te prometeu alguma coisa?
- Ele estava dormindo comigo, saíamos juntos com freqüência.
- Tá. Mas ele te prometeu alguma coisa? Fez juras de amor? Disse que vocês tinham um compromisso?
- Na verdade não falamos muito sobre isso, preferi deixar que as coisas acontecessem.
- Você pelo menos disse a ele como se sentia?
- Não, eu já disse que estava deixando as coisas acontecerem, foi você mesma que me disse para tentar um relacionamento casual.
- Eu disse a você para fazer sexo e não para fazer amor. A gente tem que separar as duas coisas.
- Eu não queria me apaixonar! Não foi de propósito!
- Ah, minha querida nunca é. A gente nunca escolhe quando vai se apaixonar.

Ela chorou por um tempo. E fiquei pensando em como é fácil enxergar os fatos da maneira que é mais conveniente para nós. As emoções pregam peças.

Ela continuou:

- Eu achei que íamos ficar juntos.
- Não gosto muito da idéia de levar as coisas na base do “achômetro”...
- E o que você acha que eu deveria ter feito?
- Querida, olhe para mim. Você conhece minhas histórias. Acha mesmo que sou a mais indicada para dar conselhos sobre amor?

A resposta dela foi mais cruel do que eu gostaria. E doeu.

- Realmente. Você ficou aí com suas frescuras e perdeu qualquer chance de ter em sua cama o homem por quem está apaixonada.
Touché. Respirei fundo.
- Ouça. Pode chamar minha postura como quiser. Eu chamo de jogar limpo. Disse a ele que estava apaixonada e que passear casualmente pela cama dele poderia agravar esse sentimento. Eu teria corrido todos os riscos, mas achei mais justo deixar tudo às claras e permitir que ele decidisse se ia encarar a situação ou não.
- Como é que alguém se apaixona por um homem que nunca comeu?
- Do mesmo jeito que alguém não se apaixona por todos os homens que come.
- Você é ainda mais burra do que eu, sinceramente.
- Está magoada e respeito isso. Mas não tem o direito de ser cruel comigo. Se quiser me achar burra, ache. Pelo menos não estou aqui com esse papinho furado de “fui usada”.
- Mas eu fui usada!
- Meu bem, ele não lhe prometeu nada.
- Mas estava me comendo!
- Querida, eu espero sinceramente que você também tenha comido ele, ou seja, que você também tenha sentido prazer. Porque esse lance de ser ticket-refeição de homem não é digno. Sexo é uma coisa para dois.
- Claro que ele me deu prazer. Mas eu queria mais.
- Pois é, isso é muito perigoso. Quando a gente começa a querer mais a coisa complica. Agora, não acho justo você culpá-lo por um sentimento que é seu. Até porque nem ele te fez promessas de amor eterno, e nem você deixou claro como se sentia.
- Ele me dispensou sem a menor piedade.
- Tem certeza que queria piedade da parte dele? Mesmo relacionamentos sólidos e duradouros às vezes acabam e segurar alguém com base em sentimentos como pena, não me parece uma boa coisa.
- E toda essa sua sinceridade e consciência de blindar a si mesma com a verdade fez as coisas doerem menos?
- Na verdade não.
Elas riram.
- Mas veja bem, pelo menos eu não estou agora no papel de vítima, achando que ele me usou e eu sou uma coitada. Dói. E junto com a dor vem um monte de sentimentos ruins, como tristeza e raiva. A diferença é que não estou aqui buscando bodes espiatórios. Reconheço que fantasiei um pouco, misturei algumas coisas. Reconheço também o mérito dele de deixar claro o que queria e o que não queria.
- É, talvez jogar limpo seja um caminho melhor.
- Não é melhor nem pior, é apenas o caminho que eu escolhi. E não tem sido fácil para ele lidar com essa enxurrada de sentimentos que nunca pediu que eu nutrisse. Porque amiga, saber que ele não tem culpa não significa que eu nunca vou ter atitudes mesquinhas, tentando atingi-lo de alguma forma. Mas eu estou tentando me policiar.
- Legal essa tua preocupação com o outro.
- Não é legal, é uma merda. Adoraria ser mais egoísta.
- Estou tão apaixonada por ele.
- Eu sei. E não estou dizendo que não tem razão em estar triste. Só acho que não devia julgá-lo. Assuma os riscos a que se expôs. Você tentou. Se não deu certo, paciência. Chore, esperneie, sofra, porque tudo isso faz parte. Tá doendo. Só não fique aí achando que é vítima, que foi usada. Ou pense que foi. Pense que foi usada e usou também. Pense que pode vir o próximo e, enquanto você quiser e achar prazeiroso, pode usar à vontade. E se bobear, ainda ganha um cartão de fidelidade para ter direito a uns bônus...
- Só você mesmo para dizer essas coisas.
- E não é verdade? Estamos vivas gata. Mulher também tem sangue correndo nas veias, também tem desejo. A gente se apaixona, se lasca, mas não precisa morrer pro mundo. Pense nisso.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010


Se você nunca morreu de amor, então morra de inveja. Eu duvido que pular de pára-quedas, mergulhar com tubarões ou subir ao pico da neblina, tenham a mesma emoção e complexidade. O mesmo risco e a mesma compensação. Eu duvido que todos os chocolates que você já comeu na vida, tenham o mesmo sabor daqueles que a gente come enquanto as horas passam arrastadas e o telefone não toca.
Não passe pela vida sem entender porque alguém pode chorar baixinho ou encolher o corpo num soluço como se aquilo fosse o fim do mundo, ou porque raios a gente pega todos os grandes sonhos que poderíamos compatilhar entre tantos outros e entrega, entre sorrisos e dores, a um só. Talvez você vibre porque não sabe o significado de uma tristeza de arrancar o fígado, esse horizonte perseguido pelo olhar perdido, as dúvidas, fantasmas atravancando o seu caminho. Talvez você veja graça no preto e branco, no cinza e na chuva fina. O seu inabalável universo de passos contidos. Mas existe uma alegria que parece a bateria de uma escola de samba plantada no coração.
A incomparável ternura que é olhar alguém dormir como se tão quietinho, tão seu, tão juntos, nada pudesse vencê-los. A bem-vinda tempestade de beijos e abraços sem fim, e sexo, como se toda vez fosse sempre a última. Se você nunca morreu de amor, saiba que existe um lugar, diferente de todos os lugares, onde um vulcão e uma flor parecem feitos um para o outro. E ainda que não seja o paraíso, é sempre o melhor lugar do mundo.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Meu melhor amigo gay


Fantástico. Não tem outra definição paro o blog Meu melhor amigo gay, uma das maiores descobertas que fiz nos últimos tempos. Divertido, maldoso, safadeeenho, útil. Muiiito útil. Dicas de moda, vingancinhas, beleza, dia-a-dia e sexo, muito sexo. Tudo com um humor ácido e escrachado, sem parecer xulo. Afinal, quem melhor do que um amigo gay para dar certas dicas, de natureza essencial? Confiram e divirtam-se. Eu recomendo.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Os donos do mundo

Olhe, - ele me disse - o mundo pode ser dos espertos, ou dos fortes, ou dos sacanas, ou dos bandidos, mas com certeza, não é dos apaixonados.

Ele tem razão.

E eu quero o mundo de volta.